Herivelto Oliveira assume a Prefeitura de Curitiba
Prefeito interino anunciou uma agenda de compromissos, que inclui visitas a obras, sanção da lei do Passaporte Celíaco e reunião com o Conselho de Política Étnico Racial.
O vereador Herivelto Oliveira (Cidadania) será prefeito de Curitiba nos próximos oito dias, entre esta sexta-feira (31) e o próximo sábado (8). A transmissão do cargo foi feita pelo prefeito Rafael Greca, em cerimônia realizada na última quarta-feira (29), em função do feriado de Corpus Christi. A posse do vereador para ocupar o mais alto cargo do Município se dá em um contexto relativamente inusitado, em razão da ausência de Greca e do vice-prefeito Eduardo Pimentel do país no mesmo período (veja abaixo outras informações sobre a linha de sucessão).
Herivelto adiantou que aproveitará o período para vistoriar obras na cidade, entre elas as do Bairro Novo da Caximba e as intervenções na Linha Verde. Além disso, deve visitar o local onde será construído o Parque da África, que ficará ao lado da Praça Zumbi dos Palmares, no Pinheirinho. Nesta sexta (31), o prefeito interino estará na Vila Leão, na região sul, para verificar demandas de moradores que pedem solução para uma área que sofre com alagamentos.
“Na segunda-feira, nós vamos ter uma reunião com o pessoal do Conselho Municipal de Política Étnico Racial (Comper) e entidades que representam negros, indígenas e outras etnias, aqui no Salão Nobre da Prefeitura”, completou. No período da tarde, haverá a sanção da lei municipal que cria o Passaporte Celíaco. A medida, que vai garantir aos celíacos o fornecimento de dieta hospitalar especial, também autoriza a entrada de alimentos para serem consumidos pelos pacientes celíacos hospitalizados. Além de Herivelto, assinam a proposta de lei os vereadores Bruno Pessuti (Pode) e Pier Petruzziello (PP).
Segundo prefeito negro de Curitiba
Conforme dados históricos disponíveis, Herivelto Oliveira será o segundo prefeito negro a comandar Curitiba. Antes dele, somente o médico Antenor Pamphilo dos Santos, brevemente, no dia 16 de julho de 1948, tinha ocupado o maior cargo público da capital do Paraná. Doutor Antenor, como era conhecido, fez parte da histórica legislatura que reabriu a Câmara de Curitiba após o Estado Novo, tornando-se o primeiro vereador negro que se tem registro na cidade.
Sobre a questão racial, Herivelto diz que “obviamente” está feliz pela oportunidade e que celebra a ocasião junto à comunidade negra. Ele pondera, contudo, que “a cor da pele é algo que nunca deveria ser um critério de seleção”. “Eu acho que a gente tem que caminhar para o dia em que isso seja uma coisa natural das pessoas. Ser o segundo, o terceiro ou o quarto, acho que ainda chama a atenção. Mas eu espero que, quando a gente chegar lá pelo décimo, isso não seja mais um assunto que dê manchete, que seja uma coisa corriqueira”.
Em 2020, Curitiba elegeu a primeira vereadora negra da cidade, a atual deputada federal Carol Dartora (PT).
Pai foi servente de obras na Prefeitura
Antes de prometer – em tom de brincadeira – não fazer “nenhuma estripulia, não deixar nada fora do lugar e devolver a Prefeitura intacta no próximo sábado”, Herivelto recordou a Greca e Pimentel que seu pai, falecido em 2012, foi servidor municipal durante 36 anos.
Segundo ele, o pai era o que se chamava de “barnabé”, um funcionário da base, que ganhava salário mínimo. “Ele era da equipe de asfalto na Secretaria de Obras, depois foi servente, entre outras funções. Tenho certeza que ele estaria muito feliz sabendo que o filho dele chegou no cargo mais alto do Executivo Municipal”.
“A nossa confiança irrestrita neste valoroso vereador, que tanto fez por Curitiba e que também desempenha um papel importante culturalmente, através de sua atuação na televisão e na imprensa, nos enche de orgulho. Sentimo-nos muito honrados em confiar a cidade de Curitiba nas mãos dele”, respondeu o prefeito.
Ausências do país
O chefe do Poder Executivo comunicou à Câmara Municipal de Curitiba (CMC) que fará uma viagem à capital da Argentina, Buenos Aires, para participar de uma série de atividades que tem por objetivo “reforçar e alavancar o papel de Curitiba como cidade turística na América Latina”. Conforme o ofício enviado à CMC no último dia 24, o prefeito será o líder de uma missão cultural organizada pelas duas prefeituras, “mediada pelo Consulado-Geral da Argentina no Paraná e pelo Ministério das Relações Exteriores”.
A convite de Rafael Greca, os vereadores Marcelo Fachinello (Pode), Tito Zeglin (MDB) e Mauro Ignácio (PSD), respectivamente o presidente, o primeiro e o segundo-vice-presidente da Câmara Municipal, acompanharão Eduardo Pimentel em uma missão oficial à Europa. A comitiva passará pelas cidades de Barcelona, Milão e Turim, onde os representantes de Curitiba vão conhecer soluções urbanas inovadoras, promover intercâmbio com autoridades e técnicos locais e abrir caminhos para novas parcerias.
Na ausência desses membros da Mesa, a CMC será presidida pelo primeiro-secretário, vereador Osias Moraes (PRTB).
Entenda a linha de sucessão
A Lei Orgânica do Município, que funciona como uma constituição local, estabelece a linha de sucessão no caso de ausência ou impedimento do prefeito e do vice. O primeiro a ser convocado é o presidente da Câmara Municipal, seguido do primeiro e do segundo-vice-presidente. Na sequência, são chamados os demais membros da Mesa Diretora e, por fim, o vereador mais votado, em ordem decrescente.
A linha de sucessão chegou até Herivelto Oliveira pois os outros três membros da Mesa Diretora em condições de assumir a função, e outros seis vereadores com maior votação, declararam-se impedidos de assumir o cargo de prefeito pois são pré-candidatos às eleições municipais, que serão realizadas em outubro deste ano. Herivelto afirmou que não vai disputar a próxima eleição, por isso aceitou assumir o cargo. Com base na Constituição Federal (art. 14 § 6º) e a regra de desincompatibilização, a jurisprudência do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) é de que o vereador que “substitui ou sucede prefeito nos seis meses anteriores às eleições é inelegível para se reeleger vereador”.
Sobre o fato de não buscar a reeleição, o vereador afirmou que, até 2016, nunca havia imaginado ser político. Ele relata que acabou não sendo eleito naquele ano, mas que assumiu como suplente em 2019 e que deveria ter ficado apenas um ano, mas acabou completando quase dois anos de vereança. No pleito seguinte, em 2020, foi eleito para o atual mandato. “Um mandato e meio vai dar exatamente 10% da minha vida. Eu estou com 60 anos, então considero um tempo razoável”, concluiu.
Quem é Herivelto Oliveira
Natural de Curitiba, o jornalista Herivelto Alves de Oliveira tem 60 anos de idade e está no segundo mandato como vereador na Câmara Municipal de Curitiba. É casado e tem um filho. Formado em Comunicação Social – Jornalismo pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), também é músico e consultor de comunicação.
Em 2020, foi eleito vereador pelo Cidadania, com 6.441 votos. Nas eleições de 2016, recebeu 5.368 votos, tendo ficado na suplência. Assumiu o cargo somente em janeiro de 2019, e permaneceu até o final daquela legislatura, no final de 2020.
Sua primeira atividade profissional foi como estagiário na assessoria de comunicação da Rede Ferroviária Federal, em 1986. No mesmo ano atuou como repórter na TV Curitiba e, poucos meses, depois foi chamado para a equipe de reportagem da TV Paranaense, onde permaneceu por 27 anos. Participou da equipe que criou o telejornal Paraná TV, que mudou a forma de fazer telejornalismo no estado. Durante mais de 10 anos, atuou como editor e apresentador desse telejornal.
Em abril de 2013, foi contratado pela RICtv Record de Curitiba, para ser editor e apresentador do telejornal Paraná no Ar, onde ficou até maio de 2015. Em março de 2017, criou um canal no YouTube para dar oportunidade e visibilidade a negros brasileiros – é o Brasil de Cor, que apresenta entrevistas que mostram os desafios de ser negro e histórias de sucesso e informações de interesse geral.
Também participaram da cerimônia de transmissão de cargo a esposa do vereador, Maria Helena Fernandez Corrêa; os assessores Cristina da Costa Porto Lachica Robacher, Marcos Eduardo Sudoviski da Silva e Paloma Armentano dos Santos; o secretário do Governo, Luiz Fernando Jamur; e a secretária de Comunicação Social, Cinthia Genguini.
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